Diário de bordo

as palavras, sempre elas
lentes nos olhos,
luvas no tato,
algodão no ouvido

ultrapassar a rebentação das palavras,
levar o corpo até o oceano
onde não se podem contar ou pular ondas
onde não se ouve o alarido da praia
só o vento encrespando a superfície
do silêncio que vem das profundezas

minha jangada é esta almofada preta
um pouco puída e com alguns pêlos de gato
dia após dia sento-me nela
erguendo o mastro da espinha
e a vela dos pulmões acompanha
o sopro dos ventos da mente

sem esforço, sem embate
tempestades e calmarias se fazem e desfazem
quando não houver onde chegar
a travessia estará completa

Nenhum comentário: