Pão

zazen da manhã
onde larguei o caderno
que usava ontem à noite?

*
poemas da noite
vão com as chuvas da manhã
caderno molhado

*

a estrada desbarranca
os morcegos voltam à casa
logo é Carnaval

*

o ronco já avisa
que quase não é possível
cruzar o riacho

*

fósforos, farinha
hora de ir à cidade
analgésico, jornal

*

galochas esquecidas
vão se enchendo de água
garoa comprida

*

tarde da noite
a cachorra aparece
toda enlameada

*
a casa silencia
besouros batem na vidraça
zazen da noite

Virtude

Aqueles que vêm aqui pela primeira vez, logo proclamam: que belo lugar; que lindas montanhas; que riacho gracioso! Eu mesmo, nas primeiras vezes em que estive aqui, apreciava estar na montanha, à beira do riacho, entre as árvores da mata. E quanto voltava à cidade, sentia profunda melancolia de deixar tudo isso, sentia-me pobre, desamparado, abandonado. Agora que aqui vivo, vejo que não é nada disso. As pessoas que aqui vêm trazem com elas essas montanhas, esses vales, os riachos, essas matas. E o vazio diante dos seus olhos se preenche de infinita riqueza e de sua própria generosidade universal. Quando elas voltam à cidade, levam tudo isso com elas e devolvem ao espaço o vazio que é do espaço, o infinito do não preenchido, a exuberância da disponibilidade. A sala do tesouro tem porta, mas não tem paredes.

De coração

Aqui em cima a água corre um bom tempo enfiada nas pedras. Vaza em nascentes várias. Cai por ângulos retos, escorre por lajes lisas e se trança de novo em correnteza, redemoinho. Um ou outro remanso de nada, que não há tempo, é preciso descer, descer. Quando começa a estrada, o riachinho já encontrou duas ou três outras águas. E bate na quarta, todas se engolem e seguem, seguem, num valezinho que já tem alguma margem. Mais adiante tudo se suaviza, o declive se rende, a correnteza grossa se espalha e descansa, a estrada é quase plana. Pode-se sentir o cheiro das árvores misturado ao de lenha queimada. É que já há casas, roças, um pouquinho de gado, galinheiros e a gente esparsa do campo. Na estrada que chega à cidade, um riacho encorpado é entregue ao rio do vale principal. Então já é leito de areia, volume sinuoso e às vezes escuro. É rio que recebe água de muitas serras, de incontáveis riachinhos, cursos, fios d’água que fluem pelos vincos destas terras, incessantemente. É ele, rio, que vai chegando triunfante na cidade, potente, penetrando a tubulação municipal, invadindo os canos das casas, a comida das pessoas, seus corpos, sua vida. Na estrada poenta vez por outra passa um carro ou um caminhão. Pessoas vão a pé ou vêm carregando sacolas. Homens passam apressados a cavalo, outros são espectros de bicicleta, quase sumidos na poeira suspensa. Cruza-se a ponte, chega-se ao calçamento. Lá adiante, além do casario, na saída da cidade, o rio segue, recebendo das pessoas a volta da água e de mais serras mais águas novas. A partir dali seu ronco compete com o dos carros sobre o asfalto. A água nem se lembra destas pedras daqui de cima, deste besouro sob o sol, dos vales que se emendaram, da estrada, do que quer que seja antes, durante ou depois.

A mente comum é o Caminho

Joshu perguntou a Nansen: " O que é o Caminho?". Nansen respondeu: "A mente comum é o Caminho." Joshu disse: Devo dirigir-me até ele?" Nansen disse: "Quanto mais você tentar se dirigir até ele, mais se afastará dele." Joshu disse: "Se eu não tentar, como saberei que é o Caminho?". Nansen disse´: "O Caminho não diz respeito a saber ou não saber. Saber é ilusão, não saber é consciência vazia. Se você realmente alcançar o Grande Caminho do não tentar, será o grande vazio, vasto e límpido. Como poderíamos falar disso em termos de afirmá-lo ou negá-lo?".
Joshu imediatamente realizou o profundo ensinamento.

(Dogen Zenji, Shinji Shobogenzo, caso 19)

As três palavras mais estranhas

As três palavras mais estranhas

Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.

(Wislawa Szymborska)

Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves

Nossa Senhora

na subida para Pouso Frio
a santa protege, na beira da estrada
na descida para a cidade
a santa protege, na beira da estrada
no poeirão do inverno
na lameira do verão
a santa, na beira da estrada
passa carro caminhão
cavalo motocicleta
bicicleta carregada
de foice e enxada
a santa se posta
exatamente no vir e ir
coberta de poeira e terra
se confunde com o barranco
e com a saudade
de quem um dia
ficou ali

Taiheizan


Planta fundamental de Taiheizan, setembro de 2011

Dosho Saikawa Roshi
Koun Campos
Homan

escola


nas montanhas e nos rios
as montanhas e os rios
ensinam as montanhas e os rios
para as montanhas e os rios
anônimo
é como se chama este riacho
que não tem beira nem eira
e deságua numa miríade de outros riachos
e vem, não se vê como, de detrás de umas pedras
sem origem e sem destino
parado na montanha
equilibrado na corredeira
perfeitamente repousado
em sua água
sem pai
sem mãe
sem filho
o riacho aninha-se em sua água
riacho bento

Sob o portal

aqui na cidade é o ninho
onde tudo se cria
se ensina e cura
o lar o cão e os gatos
os peixes e demais membros da família
bichinhos que correm pela casa
com a segurança dos aqui nascidos

lá na serra não se pode querer nada
nem ser bom nem mau
nem vilão nem herói
na serra só se obedece
a todas as ordens que a serra pronuncia
é lá que a família toda se reúne:
a montanha, o riacho, a pedraria
o embaú, a cachorrada, a filharia
a lua a nuvem e o céu
os marimbondos
o sol da serra.
atualizam-se incessantemente
os laços familiares

prática diária
prática doméstica
"o rei fica em seus domínios
o general vai além das fronteiras"
a mente é ovo de ambos

entre aqui e lá sacoleja-se um bocado
torce-se e retorce-se
e o carrinho chia na subida

rezando para a mente
pede-se proteção

domingo à tarde,
na volta para a cidade,
a alegria de se carregar pouca bagagem

Pouso Frio

fuma fumaça fuma fumaça fuma fumaça
fumaça fumaça fumaça
fuma fumaça fuma fumaça
um dia morre
e vira fumaça

sobe morro sobe desce
desce morro desce desce
sobe morro morro morro
desce
uma dia morre
e vira morro

vê a serra vê vê
a serra vê a serra vê
vê vê vê
um dia morre
e vira a serra

o marimbondo na vidraça
o marimbondo marimbondo
marimbondo na vidraça
um dia morre
e vira marimbondo

laranja laranja
laranja está o céu
céu laranja laranja
um dia morre
e vira dia

Pouso Frio

a serra vagueia na mente
escorre pelos vales da mente
a serra torrente
enquanto isso lá embaixo na cidade
os amigos não ligam mais
dei um cano nuns; desapareci para outros
as obrigações civis,
sempre em atraso
e o eterno dilema
entre o zafu e a pena
enquanto isso na mente
a serra vagueia
formosa, verdade, corrente.

Pouso Frio

a montanha cresce
dentro de mim
sinto que a qualquer hora ela floresce
serrilhando a pele,
os lábios,
o medo
pico e precipício
reposicionam minhas vísceras,
grutas
e torrentes
dia e noite noite e dia
a água brota em mim
a montanha me domina
me subjuga
me pisa
me abusa
a montanha me preenche,
me aniquila
e finalmente me protege

Pouso Frio

aqui
só há a montanha
precipício, grotão
barranco, pirambeira
mata, riacho
só há montanha

eu mesmo
à tôa olhando a água
sem saber sou montanha

a cachorrada, brincando na margem,
também é

a manhã de sábado é propícia
à camaradagem entre montanhas

Shiva

o gato morre sem nada considerar:
se há sete vidas depois da morte,
se vai pra cima ou pra baixo
se viveu bem ou mal.
morre como viveu, sem nada considerar

no rosto do velho amigo rolam
lágrimas de verão.

no buraco cavado pelos vizinhos
o gato não considera se deixou de ser gato
nem poderia, mesmo que existisse

tudo terminado, lágrimas de orvalho
a cachoeira ruge

Zazenkai de finados

ipê rosa,
zazen no cemitério
ninguém se move
~
corre-corre nas alamedas
viúvas apressadas
abrem suas sombrinhas
-
chove sobre os mortos,
chove sobre o vivo
pra que tudo isso?
~
fim de tarde
entre mortos e molhados
salvam-se todos

2º Zazenkai de Finados

Zazenkai de Finados

30/10/2010

8:00

Cemitério São Paulo (Cardeal Arcoverde)

8:00 - 8:40

Zazen 1

8:40 - 8:50

Intervalo

8:50 - 9:30

Zazen 2

9:30 - 9:40

Sutra

9:40 - 10:00

Deslocamento: Cemitério do Redemptor

(esquina da Cardeal com Dr. Arnaldo)

10:00 - 10:40

Zazen 3

10:40 - 10:50

Intervalo

10:50 - 11:30

Zazen 4

11:30 - 11:40

Sutra

11:40 - 12:00

Deslocamento: Cemitério da Dr. Arnaldo

12:00 - 13:00

Almoço e descanso

13:00 - 13:40

Zazen 5

13:40 - 13:50

Intervalo

13:50 - 14:30

Zazen 6

14:30 - 14:40

Sutra

14:40 - 15:00

Deslocamento: Cemitério da Consolação

15:00 - 15:40

Zazen 7

15:40 - 15:50

Intervalo

15:50 - 16:30

Zazen 8

16:30 - 16:40

Sutra

Encerramento

Informações:

99117469

Monge Koun

quando a culpa
é mera desculpa
para evitar
sentir vergonha

inferno

Liberar-se

Liberar-se de toda preocupação a respeito de arte e forma.
Reencontrar o contato direto, sem intermediários, e portanto a inocência.
Esquecer a arte aqui é esquecer a si mesmo. Renunciar a si mesmo não pela virtude. Ao contrário, aceitar seu inferno. Aquele que quer ser melhor se prefere, aquele que quer desfrutar se prefere. Só este renuncia àquilo que é, a seu eu, aceita o que vem com as conseqüências. Este tem então um domínio direto.

(Albert Camus, O primeiro homem)
arde o formigueiro, de dia
arde o formigueiro, à noite
o peito borbulha
a pelve ondula
a mente vicia
não sacia
arde
nunca esfria
arde o formigueiro, de dia
arde o formigueiro, à noite
o peito borbulha
a pelve ondula
a mente vicia
não sacia
arde
nunca esfria
em silêncio,
sem alarde,
o zazen infiltra-se
até que tudo se torne
fresta
quando não
se precisa de nada
tudo o que se recebe
é recebido como presente
mas é justamente isso
procurando ou não é isso que se encontra
e nada mais há além disso
absolutamente isso
de uma maneira profunda
profundamente isso
ou nem isso
ou nada disso
de onde não
se pode passar
corre corre
no meio da noite
o baile das goteiras

de manhã o sol reluz
nas poças da sala alagada
o balé dos rodos

o perfume do arroz
alcança o jardim
hora da bóia

o filho e a gata
dividindo o mesmo colo
tarde sonolenta

não há como adiar:
a certa hora é preciso
enrolar-se na rede

sozinho, no escuro,
o medo das constelações
noite de inverno
lua minguada, ninguém lhe dá bola
namorados não passeiam na sua noite
nenhum cão se anima a uivar
nenhuma canção
nem um verso

só eu, adiando a hora de ir para a cama,
acreditando tê-la toda para mim.

Trialidade

Mente
Corpo
Os Outros

Meditação ao ar livre

Os mestres do passado meditavam sob árvores. Em cabanas ou cavernas, à beira de um regato, sentados em pedras ou pilhas de folhas secas. Desde Buda Shakiamuni os mestres são unânimes em ensinar: deve-se praticar aqui e agora, sem distinções ou delongas.

Hojes as grandes cidades são lugares complexos em que se vive separadamente, com raras experiências comunitárias. Com isso, a rede que une todos os seres não é percebida e muitas pessoas vivem uma vida de insatisfação. A mente fragmentada dispersa-se e o isolamento acentua-se.

Para retornar à unidade, há a prática do zazen shikantaza: apenas sentar, sem rejeitar ou reter nada, momento após momento, sem acrescentar ou eliminar nada, sem dar preferência a uma ou outra coisa. O que quer que surja na mente, deixar vir, deixar ir.

Ao ar livre, sem paredes, telhado, portas ou janelas. Sem propriedade, sem entrada ou saída, sem separação.

Sentar, praticar, limpar o local e seguir. Nada para levar, nada para deixar.


“Purifique a mente junto a um regato ou sob uma árvore.
Observe a impermanência sem descanso,
isso irá encorajá-lo a buscar o Caminho.”
(Keizan Zenji, Zazen Yojinki)

A fala suprema

No caso de palavras que o Tathagata sabe que não correspondem aos fatos, não são verdadeiras, não são benéficas e que também são antipáticas e desagradáveis para outras pessoas: essas palavras, ele não as diz.

No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras, não são benéficas e que também são antipáticas e desagradáveis para outras pessoas: essas palavras, ele não as diz.

No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras, são benéficas, porém são antipáticas e desagradáveis para outras pessoas: o Tathagata tem a noção do momento mais apropriado para dizê-las.

No caso de palavras que o Tathagata sabe que não correspondem aos fatos, não são verdadeiras, não são benéficas, porém são simpáticas e agradáveis para outras pessoas: essas palavras ele não as diz.

No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras, não são benéficas, porém são simpáticas e agradáveis para outras pessoas: essas palavras ele não as diz.

No caso de palavras que o Tathagata sabe que correspondem aos fatos, são verdadeiras e benéficas e que também são simpáticas e agradáveis para outras pessoas: o Tathagata tem a noção do momento mais apropriado para dizê-las.

Por que isso? Porque o Tathagata tem compaixão pelos seres vivos.

Abhaya Sutta
Em: acessoaoinsight

Fragmento

Do amor entendemos
De Yin & Yang entendemos
Da linguagem que não pare entendemos
Dos vícios na mão do carma entendemos

A nossa parte está lançada
Cento e um por cento
Não há Meio Buda no caminho.

(Monge Koguen Gouveia)

Dharma

Os dez mil fenômenos
nada mais são
que a pupila de Buda.
Sentado imóvel no zendô, o corpo recusa-se ao zazen. A mente recusa-se ao zazen. A respiração recusa-se ao zazen. Instante após instante todo o Universo que há recusa-se ao zazen. A consciência recusa-se a acreditar que o zazen seja a agradável prática dos Budas e ancestrais. Os inumeráveis seres vivos recusam-se a ser salvos. O Dharma recusa-se a ser compreendido e os desejos recusam-se até a serem nomeados, quanto mais extintos.

O Caminho de Buda, no entanto, jamais recusa-se a ser realizado.
Sentado imóvel no zendô, o corpo recusa-se ao zazen. A mente recusa-se ao zazen. A respiração recusa-se ao zazen. Instante após instante todo o Universo que há recusa-se ao zazen. A consciência recusa-se a acreditar que o zazen seja a agradável prática dos Budas e ancestrais. Os inumeráveis seres vivos recusam-se a ser salvos. O Dharma recusa-se a ser compreendido e os desejos recusam-se até a serem nomeados, quanto mais extintos.

O Caminho de Buda, no entanto, jamais recusa-se a ser realizado.
Terceiro outono nesta praça.
Em certas manhãs frias,
o Dharma tem que ser jogo-rápido –
e não se esqueça do gorro.

São poucas as árvores que ficam realmente sem folhas;
numa rua próxima, um ipê rosa está em plena floração.
As estações e as plantas jamais se confundem.

O solo desta praça é vazio como o céu.
Afinal de contas, ela se estende para todos os lados,
infiltrando-se sob a cidade.
Para o alto avança sua folhagem, para baixo penetra suas raízes.
De certo e preciso modo, a praça tudo abarca.

Esta praça é
a carne viva do Universo.

Sentando-se assiduamente aqui, pode-se entender isso.

praça vazia
domingo de manhã
ressaca da quermesse

Zazen na praça

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra

(Guilherme Arantes)

Mundos & egos em quatro atos

Mundos & egos em Quatro Atos

I

Não havia ninguém na Avenida Paulista.
Ninguém.
II

Não. Desculpe-me.
Havia um único observador na Avenida Paulista.
III

Nossa !
Não há mais a Avenida Paulista !
IV

Agora sim.
Não há qualquer vestígio de avenidas & paulistas.

(Monge Koguen Gouveia)
zazen
é que nem filho:
a gente cria pro mundo.
fadas e vampiros
bruxas e monges
noivas e vagabundos
soldados e professores
filhos sem pai
esposas sem marido
peregrinos e camponeses
todos imóveis
em silêncio
à meia-luz do zendô

lá fora a garoa fina
preenche as ruas desertas

quando o incenso chega ao fim
soa o sino
a vela é apagada
o zendô esvazia
transformados em mariposas
todos se dispersam
pelas 10 direções
penetrando a noite fria de Curitiba
de repente as cigarras silenciaram
o parquinho das crianças esvaziou-se
e não se ouvia mais a gritaria da quadra de futebol
é que a garoa de outono engrossou
e um chuvisco frio já atravessava
a copa desfolhada das árvores

zafu sobre a cabeça, voltei correndo para casa
esquecido na praça abandonada
restou o incenso,
queimando protegido pelo tronco da amoreira

Voo Com Destino ao Seu Ponto Fraco

Voo Com Destino ao Seu Ponto Fraco

fascinante os poderes
das aeromoças sobre os humanos
algumas parecem androides
com movimentos santificados:

em emergências fatais,
máscaras cairão,
e duas portas laterais ...

ai ! meu deus !
hieroglifadas sejam essas portas !

depois oferece quase tudo
whisky, suco, sanduiche, mito
bodhisatva, quero só teu espírito ...

após o voo, dito e feito,
aguarda na porta para despedida:
um caso de Amor Perfeito

isso é pra transpor dualidade
agonia e felicidade,
dos mortais fracos ?

ou para vender fartos
bilhetes aéreos ?

baba baby férreo.

(saio babando da aeronave)

por que não ?

saiam.

(Monge Koguen Gouveia)

Éon

homem ou mulher, tanto faz
por cima ou por baixo,
sempre se chega ao fim

vida ou morte,
a longo prazo,
são dia e noite
janta e almoço
café e cigarro

muitas vidas já se sucederam
muitos corpos se formaram e dispersaram
enquanto isso, no sonho da mente,
indiferença e iluminação brincam de gato e rato

só um estalo no assoalho,
ou uma gota de suor,
ou o cheiro de bolo que vem da cozinha
são capazes de interromper tais divagações
o presente conduz com precisão e delicadeza
a exuberância do universo
assim como uma gota de água que equilibra
sobre si todo o oceano

em algum momento o zazen se encerrará
e os membros se sentirão de novo
as articulações voltarão a mover
órgãos, vísceras, fluidos, fogos e ventos
se penetrando dentro do mundo
se espalhando pela tarde,
atarefando-se com a limpeza, a cozinha, as crianças

tudo isso não chega a durar uma expiração completa.

ziri gi dum

Fantasia

maravilhoso manto da iluminação
campo além da forma e vazio

Máscara

olhos alinhados com os ombros, nariz com o umbigo, língua no céu da boca, queixo retraído, pálpebras relaxadas acima da pupila

Enredo

Deixar ir, deixar vir

Ding

não,
pensei,
e o sino tocou.

Olhos

Se quiser o caminho bem aqui, diante de seus olhos,
Não concorde ou discorde dele.

(...)

Os desvios e as curvas do vazio
Surgem das visões iludidas;
Não há necessidade de buscar a verdade,
Apenas cesse essas visões.

(...)

Quando os olhos não se fecham no sono,
Os sonhos desaparecem por si mesmos;
Quando a mente não faz distinções,
As dez mil coisas são vistas como são, como se fossem uma coisa só.

(Fragmentos de Shinjinmei, de Mestre Sosan, o Terceiro Patriarca)

Diário de bordo

as palavras, sempre elas
lentes nos olhos,
luvas no tato,
algodão no ouvido

ultrapassar a rebentação das palavras,
levar o corpo até o oceano
onde não se podem contar ou pular ondas
onde não se ouve o alarido da praia
só o vento encrespando a superfície
do silêncio que vem das profundezas

minha jangada é esta almofada preta
um pouco puída e com alguns pêlos de gato
dia após dia sento-me nela
erguendo o mastro da espinha
e a vela dos pulmões acompanha
o sopro dos ventos da mente

sem esforço, sem embate
tempestades e calmarias se fazem e desfazem
quando não houver onde chegar
a travessia estará completa

Estado de alerta

a praça debaixo d'água
a lama brota da grama pura
o parquinho das crianças
tornando-se areia movediça
a ferrugem da gangorra
se alimentando da chuva de janeiro
e ninguém brinca de roda
ninguém faz fofoca
velhinhos e crianças
estão em suas casas
vendo a água escorrer pela vidraça

no fim da tarde, quem sabe estie
então um ou outro se aventure
pela praça túrgida de água
pisando folhas inchadas
molhando os fundilhos nos bancos de madeira
respirando a ar úmido que sobe do cimento

assim se pode dar por encerrado mais um dia

aqui, o domingo todo, a mente seguiu alagada em pensamentos

Votos


um presente
sem confrontos
nem fugas

um presente
sem dívidas
nem lucros

um presente
sem nome
nem sobrenome

um presente
sem essência
ou aparência

um presente
que seja feito
de momento após momento






Karaniya Metta Sutta

Amor Bondade

Quem é hábil no que é benéfico, desejando alcançar
aquele estado de paz, age assim:
capaz, correto, honrado,
com a linguagem nobre, gentil e sem arrogância,

Satisfeito e fácil de sustentar,
sem ser exigente por natureza, frugal no seu modo de vida,
os sentidos acalmados, sábio,
moderado, sem cobiçar ganhos.

Não faz nada, mesmo que trivial,
que seja condenado pelos sábios.
Pense: felizes, seguros,
que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança.

Todos os seres vivos que existem,
fracos ou fortes, sem exceção,
compridos, grandes,
médios, curtos,
sutis, grosseiros,

Visíveis e invisíveis,
próximos e distantes,
nascidos e por nascer:
que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança.

Que ninguém engane
ou despreze outrem, em nenhum lugar,
ou devido à raiva ou má vontade
deseje que alguém sofra.

Tal qual uma mãe, colocando em risco a própria vida,
ama e protege o seu filho, o seu único filho,
da mesma forma, abraçando todos os seres,
cultive um coração sem limites.

Com amor bondade para todo o universo,
cultive um coração sem limites:
Acima, abaixo e em toda a volta,
desobstruído, livre da raiva e da má vontade.

Quer seja parado, andando,
sentado, ou deitado,
sempre que estiver desperto,
cultive essa atenção plena:
a isto se denomina uma morada divina
no aqui e agora.

Sem estar aprisionado pelas idéias,
virtuoso e com a visão consumada,
tendo subjugado o desejo pelo prazer sensual,
ele não mais renascerá.

(Disponível no Acesso ao Insight)

A um amigo que vai partir

Amigo,

Que o desconforto e a dor se abrandem.
Que você perceba que o corpo não é o eu,
que as sensações não são o eu,
que os pensamentos e a memória não são o eu.
Mesmo que o corpo sofra,
que a mente permaneça serena e estável.

O olho é a lâmpada do corpo

A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho estiver são, todo o teu corpo ficará iluminado; mas se o teu olho estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro. Pois se a luz que há em ti são trevas, quão grande serão as trevas?

(Jesus Cristo, no Sermão da Montanha)

Shodoka I

Eis aquele que é livre
Indo pelo Caminho, além de filosofias
Sem evitar a fantasia, sem buscar a verdade
A real natureza da ignorância é a própria natureza de Buda
O corpo vazio e ilusório é o próprio corpo de Buda.


[Joshu pergunta a Nansen:
"Qual é o Caminho?"
"A mente comum é o Caminho", responde Nansen.
"Devo tentar buscá-la?", pergunta Joshu.
"Se você tentar buscar, se afastará", responde Nansen.
"Como posso conhecer o caminho a não ser buscando-o?", insistiu Joshu.
Nansen diz:
"O Caminho não diz respeito a saber ou não saber. Saber é delusão; não saber é confusão. Quando você realmente alcançar o caminho verdadeiro além da dúvida, você o perceberá vasto e sem fronteiras, como o espaço ilimitado. Como se pode falar disso em termos de certo ou errado?"
Com essas palavras, Joshu alcançou uma súbita realização.]

Prática ao ar livre

O zazen ao ar livre tem suas especificidades. Nas instruções dadas por Keizan Zenji, em Zazen Yojinki, encontram-se boas orientações que devem ser consideradas para quem pratica ao ar livre, por exemplo:

"Quando estiver sentado em zazen, não se apóie numa parede, suporte ou tapume. Também não se sente em locais com vento ou em locais altos e expostos, onde você possa contrair alguma doença."

A íntegra do texto: Zazen Yojinki

"Uma coisa só, de natureza misteriosa,
densa, sem complicações,
Em que todas as dez mil coisas
são vistas como uma unidade;
Todos voltam à origem
e permanecem onde sempre estiveram,
Esquecendo o seu porquê,
sendo impossível preferir um a outro."

(Shinjinmei, Mestre Sosan - terceiro patriarca)

de manhã cedinho, colocar o zafu sobre as raízes
depois recolher garrafas e plásticos no gramado
um sanduíche à sombra da tipuana
e caminhar até a próxima parada
é bom nada entender

Zazenkai das praças

Sábado, 29 de agosto

Zazenkai é um dia dedicado apenas à prática.
No zazenkai das praças pratica-se zazen e limpeza em praças públicas (roteiro abaixo).

Informações: zazenoeste@yahoo.com.br

Levar:

. sacos de lixo
. luvas ou saquinhos de supermercado para proteger as mãos
. alimento e bebida para compartilhar
. zafu
. plástico ou jornal para forrar o chão
. água para beber e lavar as mãos

8:45 Mirante da Lapa (Praça Valdir Azevedo)
Esquina da rua Cerro Corá com a rua Japuanga

9:00 - 9:30 Zazen 1
9:30 - 9:40 Sutra
9:40 - 10:00 Samu 1
10:00 - 10:30 Zazen 2

10:30 - 10:50 Deslocamento para Praça Província de Saitama
10:50 - 11:20 Zazen 3
11:20 - 11:40 Samu 2
11:40 - 12:10 Zazen 4

12:10 - 12:50 Almoço/Descanso
12:50 - 13:20 Deslocamento para Praça do Boaçava (Praça Barão Pinto Lima)
13:20 - 13:50 Zazen 5
13:50 - 14:10 Samu 3
14:10 - 14:40 Zazen 6

14:40 - 15:10 Deslocamento para Parque Villa-Lobos
15:10 - 15:40 Zazen 7
15:40 - 16:00 Samu 4
16:00 - 16:30 Zazen 8
16:30 Sutra


Zazen


"Que ninguém reviva o passado
ou no futuro coloque as suas esperanças;
pois o passado foi deixado para trás
e o futuro ainda não foi alcançado.
Ao invés disso, que veja com clareza
cada estado surgido no presente."

(Bhaddekaratta Sutta, Uma Única Noite Excelente)

Não saber

Por toda parte, movimente-se livremente, sem perseguir condições, sem cair em classificações. Encarando tudo, deixe ir e alcance a estabilidade. Permaneça com aquilo apenas como aquilo. Permaneça com isto apenas como isto. Isto e aquilo misturam-se mutuamente sem discriminações de acordo com seus lugares. Por isso é dito que a terra ergue a montanha sem saber dos despenhadeiros desolados da montanha. Uma rocha contém o jade sem saber da perfeição do jade. É assim que verdadeiramente se deixa o lar, é assim que o deixar o lar deve ser declarado.

(Hongzhi Zhengjue)

Zazen no hospital

Sala de meditação do Hospital do Servidor Público Municipal

Sessões de Zazen 2ªs, das 7:00 às 9:00,
e 3ªs das 7:00 às 10:00.

O hospital fica na estação Vergueiro do Metrô
e a sala de meditação é no 9º andar.

A prática é aberta ao público em geral.

Sobre os pensamentos


"Afastar-se ou tocar:
ambos errados."

(Tozan Ryokai, Hokyozanmai – O Samadhi do Espelho Precioso)

Tesouro além da forma e do vazio


Não é algodão, não é seda.


"Maravilhoso manto da Iluminação
Tesouro além da forma e do vazio
Que possamos praticar o Caminho de Buda
A fim de salvar todos os seres"
tarde no parque
as carpas passeiam
pelas nuvens de outono

***

com as mãos em prece
o arrozal recita
Maka Hannya Haramita Shingyo


***

a lua crescente
está cheia esta noite
céu de outono
chove há mais de um mês
a praça encharcada
segue deserta
sem que ninguém visse
a paineira floriu,
as flores recolheram-se em suas bolotas
e a paina se espalhou pelo gramado,
misturando-se à lama
o Dharma é não-dependente
de opiniões e pontos de vista

Votos

“Que ninguém reviva o passado
ou no futuro coloque as suas esperanças;
pois o passado foi deixado para trás
e o futuro ainda não foi alcançado.
Ao invés disso, que ele veja com insight
cada estado surgido no presente;
que ele compreenda isso e tenha certeza disso,
invencível, inabalável."

(Mahakaccanabhaddekaratta Sutta)

o outono se espalha
pelo gramado da praça
velha paineira

Zazen

sem interrupções
o rio descansa na água

Desejo

Isto foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi:
“Há esses três tipos de desejo. Quais três? Desejo pela sensualidade, desejo por ser/existir, desejo por não ser/existir. Esses são os três tipos de desejo.”

Escravizados pelo desejo,
com as mentes castigadas pelo ser/existir e pelo não ser/existir,
escravizados pelos grilhões de Mara -
seres que não estão a salvo do cativeiro,
seres que permanecem perambulando,
dirigindo-se para o nascimento e morte.

Enquanto que aqueles que abandonaram o desejo,
livres do desejo por ser/existir e não ser/existir,
realizando o fim das impurezas,
embora estejam no mundo,
foram para mais além.

(Tanha Sutta)
neste gramado
semana após semana
se passaram muitas estações
sem compreender nada do Dharma
continuo por aqui
a grama começa se recolher
e logo vai ser preciso usar um gorro de lã
no primeiro outono
acabei ficando resfriado
depois aprendi a não sair de casa em certos dias
e deixar a praça cuidar de si mesma
no verão é comum encontrar
garrafas de vinho pelo gramado
após o zazen recolho as sobras da noite anterior
o espaço não faz distinções
hoje de manhã, com o outono por perto
só deu tempo de correr antes da chuvarada
durante a primavera
e por todo o verão
sentei-me sozinho nesta praça
fiquei íntimo das árvores, da grama e dos insetos
os pássaros e cigarras me mantendo desperto
e formigas passeando pelo meu corpo
agora que é outono, visitantes apareceram para se sentar comigo
por algum tempo, ficamos imóveis, sem nada fazer
aqui não temos condições para formalidades
sem instrumentos, móveis e qualquer apetrecho
tudo deve ser feito com o próprio corpo
meu mestre passou-me o manto
meu professor cedeu-me os zafus
tudo que há neste lugar é obra do Dharma
queimamos incenso entre as raízes
e fazemos reverência em qualquer direção
não há dentro ou fora,
então sentamos virados para qualquer lado
apenas sigo as instruções de meu mestre
“sente-se sob uma árvore, deixe ir, deixe vir.
o Dharma já existe plenamente em vocês,
praticando, ele se torna seu”.
domingo após domingo
sigo com a praça e as estações
no verão as crianças são muitas
mas agora que o outono chegou
nem o cão vira-lata está por perto
entre as árvores, me sento e pratico
experimentando com os ossos a mente de Buda

A cessação do sofrimento

“Ao ouvir um som com o ouvido... Ao cheirar um aroma com o nariz... Ao saborear um sabor com a língua ... Ao tocar um tangível com o corpo... Ao perceber um objeto mental com a mente, ele não deseja o objeto mental prazeroso e não repele o objeto mental desprazeroso ... Com a cessação desse deleite ocorre a cessação do apego; com a cessação do apego, cessa o ser/existir; com a cessação do ser/existir, cessa o nascimento; com a cessação do nascimento, envelhecimento e morte, tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero cessam. Assim é a cessação de toda essa massa de sofrimento."

(Mahatanhasankhaya Sutta – O Grande Discurso sobre a Destruição do Desejo)

De mãos bem abertas

sob as árvores
com as costas eretas
professor e aluno praticam
os pássaros continuam suas atividades
assim como as formigas
o vento farfalha as folhagens
e um cão brinca no gramado logo adiante
do parquinho vem o vozerio da criançada
quem passeia pelas calçadas da praça
passa conversando sobre isso e aquilo,
assuntos do domingo
o professor ensina, o aluno aprende
a grama viceja, a manhã avança
não há nada a mais momento após momento
neste templo o zazen às vezes é interrompido
por uma criança curiosa ou uma tromba d’água
é que as paredes e o teto
são só o espaço vazio
o perfume do incenso se mistura
ao cheiro da terra molhada
e o toque do sino faz eco com o sabiá
não há nada além neste momento
tampouco algo incompleto
como exprimir isso em palavras?
professor e aluno praticam
de costas eretas sob as árvores
nada a ensinar, nada a aprender
quando termina o zazen,
recolhem-se as almofadas
nada para deixar, nada para levar.
ao final do zazen
observam-me pica-pau e homem-aranha
"é doido" fala baixinho um pro outro
"meu pai faz isso aí também", responde este
depois o pica-pau pula voa até paineira
enquanto o homem aranha escala o tronco da goiabeira

Canção da cabana coberta de relva

"Construí uma cabana de relva onde não há nada valioso.
Após me me alimentar, eu relaxo e tiro uma soneca.
Quando ela ficou pronta, novas ervas brotaram.
Agora nela se mora coberto por trepadeiras.
A pessoa na cabana vive aqui calmamente,
Sem se prender ao dentro, ao fora ou ao entre.
Nos lugares em que as pessoas do mundo vivem, ela não vive.
Os domínios que as pessoas do mundo amam, ela não ama.
Apesar de a cabana ser pequena, ela contém o mundo todo.
Em três metros quadrados, um velho homem ilumina formas e sua natureza.
Um bodhisattva do Grande Veículo confia sem dúvida.
As pessoas medíocres ou rasteiras não podem evitar elocubrar:
Essa cabana vai ou não se estragar?
Estragável ou não, o mestre original está presente,
sem se deter no sul ou norte, leste ou oeste.
Firmemente fundado na estabilidade, não pode ser superado.
Abaixo dos verdes pinheiros, uma janela luminosa –
Palácios de jade ou torres de rubi não podem ser comparados com isso.
Apenas sentar com a cabeça coberta, todas a coisas descansam.
Assim, esse monge da montanha definitivamente não entende.
Vivendo aqui ele não mais se esforça para se libertar.
Quem orgulhosamente providenciaria assentos, tentando seduzir convidados?
Vire ao contrário a luz para que brilhe no interior, então apenas retorne.
A vasta e inconcebível fonte não pode ser fitada nem evitada.
Encontre os mestres ancestrais, familiarize-se com suas instruções,
Junte relva para construir uma cabana, e não desista.
Deixe ir centenas de anos e relaxe completamente.
Abra suas mãos e caminhe, inocente.
Milhares de palavras, miríades de interpretações.
São apenas para libertar você das obstruções.
Se você desejar conhecer a pessoa imortal da cabana,
Não se separe desse saco de pele aqui e agora."


(Sekito Kisen)

Confiança no zazen

"O caminho perfeito não possui dificuldades
Mas não faz distinções ou preferências;
Apenas quando não houver apego nem aversão
É que tudo surgirá de modo claro e aberto.
Porém, com a menor diferenciação,
As coisas se afastam mais do que o céu e a terra;
Se quiser o caminho bem aqui, diante de seus olhos,
Não concorde ou discorde dele.
A competição entre a aceitação e a rejeição
É uma doença para a mente;
Sem compreender o significado profundo,
Esforça-se em vão para aliviar os pensamentos.
O caminho é circular, é um vazio imenso
Em que nada falta e nada sobra;
É só por causa do escolher e do rejeitar
Que o caminho deixa de ser assim.
Não procure condicionamentos externos
Nem permaneça no vazio interno;
Quando a mente repousa na unidade,
O dualismo desaparece por si mesmo.
Se acalmar a mente detendo seu movimento,
Essa quietude fará movê-la ainda mais;
Enquanto estiver nesse dualismo,
Como poderá conhecer a unidade?"


(Trecho de Shinjinmei, de Sosan, o terceiro Patriarca)

Sobre o Zazen

"Não procure a iluminação. Não tente escutar os fenômenos ilusórios. Não odeie os pensamentos que surgirão, nem os ame, e sobretudo não os guarde. De qualquer maneira, pratique o grande fundamento, aqui e agora. Se você não guardar o pensamento, ele não voltará por si só. Se você se entregar à expiração e deixar a inspiração enchê-lo, em um vaivém harmonioso, nada mais restará do que uma almofada sob o céu vazio, o peso de uma chama."

(Koun Ejo)

Templo

era uma casa muito engraçada
não tinha teto, não tinha nada
ninguém podia entrar nela, não
porque na casa não tinha chão
ninguém podia dormir na rede
porque na casa não tinha parede
ninguém podia fazer pipi
porque penico não tinha ali
mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos, número zero.

(Vinicius de Moraes)

Caminho

andando sempre reto
dá-se a volta na praça
sem sair do lugar
já é de novo primavera

Meditação Zazen ao ar livre

Os mestres do passado meditavam sob árvores. Em cabanas ou cavernas, à beira de um regato, sentados em pedras ou pilhas de folhas secas. Desde Buda Shakiamuni os mestres são unânimes em ensinar: deve-se praticar aqui e agora, sem distinções ou delongas.

Hojes as grandes cidades são lugares complexos em que se vive separadamente, com raras experiências comunitárias. Com isso, a rede que une todos os seres não é percebida e muitas pessoas vivem uma vida de insatisfação. A mente fragmentada dispersa-se e o isolamento acentua-se.

Para retornar à unidade, há a prática do zazen shikantaza: apenas sentar, sem rejeitar ou reter nada, momento após momento, sem acrescentar ou eliminar nada, sem dar preferência a uma ou outra coisa. O que quer que surja na mente, deixar vir, deixar ir.

Ao ar livre, sem paredes, telhado, portas ou janelas. Sem propriedade, sem entrada ou saída, sem separação.

Sentar, praticar, limpar o local e seguir. Nada para levar, nada para deixar.


“Purifique a mente junto a um regato ou sob uma árvore.
Observe a impermanência sem descanso,
isso irá encorajá-lo a buscar o Caminho.”
(Keizan Zenji, Zazen Yojinki)

Zazen na Praça


o passado já se foi
o futuro ainda não existe
tudo o que temos é o momento presente

Zazen ao ar livre

Instruções e prática
de Shikantaza:
"apenas sentar".


Domingos, às 10:00. Em caso de chuva, não há prática.


Praça Barão Pinto Lima – conhecida como Praça do Boaçava
(na praça, dirija-se ao lado oposto ao das quadras, onde há uma grande paineira)

Informações:
9911.7469 (Monge Koun)
zazenoeste@yahoo.com.br
http://zazenoeste.blogspot.com/


Sobre o zazen

"Desprenda-se da mente, do intelecto e da consciência, abandone a memória, o pensamento e a observação sozinhos. Não tente fabricar Buda. Não se preocupe com o quanto você acha que está indo bem ou mal; apenas entenda que o tempo é precioso, como se seu cabelo estivesse em chamas."

(Keizan Zenki, Zazen Yojinki)